terça-feira, 13 de outubro de 2015

Café com um refugiado sírio

Ontem fui encontrar uma amiga, tomar um café e conversar um pouco, antes dela viajar para o seu país de origem, o México.

Sentamos nas cadeira fora, mas quando surgiu lugar livre entramos, pois estava muito frio. Na Starbucks da Prager Straße tem wifi grátis e umas poltronas super confortáveis localizadas ao redor do paredão de vidro, e são muito disputadas. Nós sentamos próximas às poltronas, e havia um rapaz em uma dessas poltronas, com um smartphone, fones de ouvido, e uma chicara de Expresso vazia. 

Eu e minha amiga, ficamos por muito tempo conversando sobre a vida, o futuro, sobre os problemas sociais no Brasil e México, em comparação à Alemanha, entre outros assuntos. Nós conversávamos em inglês, pois eu não me arrisco em espanhol, e ela não fala português.

Houve um momento em que estava tentando explicar para minha amiga o que é "favela", quando uma senhora alemã, sentada em uma mesa ao lado virou para mim e perguntou se eu era brasileira, e então em uma rápida conversa nos apresentamos, afinal eu queria saber porque ela aprendeu falar português e ela queria saber porque eu estava em Dresden.

Precisei ir ao banheiro, e quando voltei, aquele rapaz solitário, estava sentado na mesa com minha amiga!!! Ele se apresentou como refugiado sírio!

Starbucks  é o único negócio que está aberto a partir das 7:30h, na Prager Straße, e o rapaz nos contou que estava lá desde as 8 horas da manhã, e já eram 16 h da tarde.

O rapaz sírio, solitário, entediado, sofrido, não tinha nada feliz para contar. Ele contou que mora em um apartamento cedido pelo Governo Alemão, com refugiados de outros países, e que ele evita ficar em casa porque os outros refugiados são violentos e até armados com arma branca.

Uma simples pergunta ao rapaz, como onde está sua família? e recebíamos uma dolorosa resposta.
Eu estava diante daquele rapaz, ouvindo sua história, dando-lhe um pouco de atenção, dizendo palavras de esperança, mas sabia que era infinitamente insignificante o que "eu fiz" à totalidade do drama vivido por aquele jovem.

Eu dei um abraço apertado nele, que não correspondeu, por vergonha, constrangimento, ou talvez por cultura, simplismente.  

Photo by www.bbc.com (BBC Brasil)
Ele tem um sonho, de estudar na Alemanha, fazer Mestrado em Agricultura, ele vai conseguir!

Aqui, eu não conto o que ouvi, por respeito àquele rapaz, mas conto à você que, os refugiados que chegam vivos na Europa, ainda "continuam atravessando mares" para sobreviver, o mar do preconceito, o mar da ignorância, o mar da indiferença, o mar da solidão, o mar do luto (de perder parentes mortos pela guerra ou pela possibilidade de nunca mais voltar vê-los novamente).

Voltei para casa completamente triste, com a recordação daquele rapaz e de sua história.

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