segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Aniversário no Kindergarten

No dia do aniversário do nosso filho, eu e meu esposo fizemos um bolo, para cantar os parabéns para ele e darmos um presente. Seria perfeito, se tivesse algo para acender as velas!
Nós dois só percebemos que não tínhamos absolutamente nada para fazer uma faísca de fogo quando nosso filho pediu para acender logo as velas, pois ele queria apagá-las.

Aqui na Alemanha, o fogão e forno do nosso apartamento é completamente elétrico. Nem eu, nem meu esposo fumamos (Amém!). Eu só costumo acender velas em datas especiais ou quando recebo visitas. A data especial chegou!

Eu olhei para meu esposo para pedir à ele que fosse comprar fósforos no supermercado, mas sabe como são os homens, não é? simplificou e disse não devemos se importar com este "detalhe". Meu coração ficou dividido, parecia algo impraticável para mim, um "parabéns" sem velas acesa? será que pode?

Sabe que eu tentei aquecer papel na chapa do fogão e tentei fazer fogo com incidência de luz na lupa do meu filho, hahaha, pode rir, foi verdade, é hilário lembrar disso, mas na hora eu estava angustiada e até com medo, superstição pura. Ai que raiva que eu tenho de ter estas superstições estúpidas, eu tentei aprender algo com meu esposo gringo, naquele momento.

Porém, nosso filho sentiu falta sim, de apagar velas, afinal, as crianças adoram esse ritual, elas estão sempre tentando e apagando todas as velas que vêem pela frente, até mesmo do aniversário dos outros. Imagina a vontade de apagar, finalmente, a vela do seu próprio aniversário?

Meu filho só não começou a chorar porque eu lhe prometi imediatamente que faria outro bolo, para levar para o Kindergarten para comemorar com seus amiguinhos.

No Kindergarten eu avisei aos educadores, que ele estava aniversariando naquele dia, e eu perguntei se eu poderia trazer, no dia seguinte, um bolo para festejar. A educadora do meu filho estava de férias, mas os outros educadores concordaram e solicitaram que eu trouxesse somente o bolo, nada além disso. Eu também não poderia participar, igual como é nas creches no Brasil.

Era a minha chance de corrigir imediatamente aquele erro, da falta de velas para apagar.

Meu filho me contou que o professor até pegou o violão e cantou com as crianças, os parabéns em alemão e outras canções, mas que ele não apagou velas nenhuma! Eu enviei duas velas de "5 anos" e dois bolos de chocolate, com cobertura de chocolate, e mesmo assim meu filho não apagou velas. Por quê?

Ele ficou frustrado mais uma vez, e eu também. Eu tive que prometer outro bolo, e outros parabéns, e com velas acesas para meu filho apagar. Eu disse que faria uma festinha em casa e convidaria alguns amiguinhos.

Eu fiz até o convite e o distribui de forma digital, mas nossos únicos convidados não estavam disponíveis para a data que eu marquei: 3 de outubro, eu não havia percebido que era feriado, "Reunificação da Alemanha". Alguns me responderam logo que não poderiam, outros não. Eu pensei que ainda poderia fazer a festa, porém, somente um dia antes, soube que não haveria convidados.

Porém, eu fiz uma limonada deste limão!!! Tinha um "fervo" (festa pública) em comemoração ao feriado, e nós fomos para lá, nos divertir. Eu pensei que meu filho não havia percebido nada na mudança de planos, mas percebeu.

Meu filho acordou chorando no domingo, era um choro muito sentido, não era birra, o que poderia ser? Perguntei e ele respondeu chorava porque não houve a festa de aniversário, ele disse que ficou triste. Eu fiquei triste também. Ele e eu estávamos decepcionados.

Eu prometi outro bolo e com velas, eu disse-lhe que, uma festa não seria possível aqui na Alemanha, mas eu poderia fazer outro bolo e levar para o Kindergarten e fazer uma festinha lá com seus amigos.

Desta vez a educadora do meu filho estava, e gentilmente me convidou para participar da "festinha"

(continua ...)

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Café com um refugiado sírio

Ontem fui encontrar uma amiga, tomar um café e conversar um pouco, antes dela viajar para o seu país de origem, o México.

Sentamos nas cadeira fora, mas quando surgiu lugar livre entramos, pois estava muito frio. Na Starbucks da Prager Straße tem wifi grátis e umas poltronas super confortáveis localizadas ao redor do paredão de vidro, e são muito disputadas. Nós sentamos próximas às poltronas, e havia um rapaz em uma dessas poltronas, com um smartphone, fones de ouvido, e uma chicara de Expresso vazia. 

Eu e minha amiga, ficamos por muito tempo conversando sobre a vida, o futuro, sobre os problemas sociais no Brasil e México, em comparação à Alemanha, entre outros assuntos. Nós conversávamos em inglês, pois eu não me arrisco em espanhol, e ela não fala português.

Houve um momento em que estava tentando explicar para minha amiga o que é "favela", quando uma senhora alemã, sentada em uma mesa ao lado virou para mim e perguntou se eu era brasileira, e então em uma rápida conversa nos apresentamos, afinal eu queria saber porque ela aprendeu falar português e ela queria saber porque eu estava em Dresden.

Precisei ir ao banheiro, e quando voltei, aquele rapaz solitário, estava sentado na mesa com minha amiga!!! Ele se apresentou como refugiado sírio!

Starbucks  é o único negócio que está aberto a partir das 7:30h, na Prager Straße, e o rapaz nos contou que estava lá desde as 8 horas da manhã, e já eram 16 h da tarde.

O rapaz sírio, solitário, entediado, sofrido, não tinha nada feliz para contar. Ele contou que mora em um apartamento cedido pelo Governo Alemão, com refugiados de outros países, e que ele evita ficar em casa porque os outros refugiados são violentos e até armados com arma branca.

Uma simples pergunta ao rapaz, como onde está sua família? e recebíamos uma dolorosa resposta.
Eu estava diante daquele rapaz, ouvindo sua história, dando-lhe um pouco de atenção, dizendo palavras de esperança, mas sabia que era infinitamente insignificante o que "eu fiz" à totalidade do drama vivido por aquele jovem.

Eu dei um abraço apertado nele, que não correspondeu, por vergonha, constrangimento, ou talvez por cultura, simplismente.  

Photo by www.bbc.com (BBC Brasil)
Ele tem um sonho, de estudar na Alemanha, fazer Mestrado em Agricultura, ele vai conseguir!

Aqui, eu não conto o que ouvi, por respeito àquele rapaz, mas conto à você que, os refugiados que chegam vivos na Europa, ainda "continuam atravessando mares" para sobreviver, o mar do preconceito, o mar da ignorância, o mar da indiferença, o mar da solidão, o mar do luto (de perder parentes mortos pela guerra ou pela possibilidade de nunca mais voltar vê-los novamente).

Voltei para casa completamente triste, com a recordação daquele rapaz e de sua história.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Os caçadores de "caloteiros"

Você pode encontrar, em diferentes blos ou sites de brasileiros que moram na Europa, em especial, na Alemanha, falando sobre o controle do pagamento das passagens de ônibus, trens e Straßenbahn. Na postagem Blogs e sites de brasileiros na Alemanha, eu listo alguns sites incríveis, com informações super importante para um "marinheiro de primeira viagem". 

Entrar em um transporte público e não ter ninguém te para cobrar, a primeira vez que eu vi isto foi na Itália, o primeiro país que visitei da Europa, em Roma, quando viajei com meus amigos da UFPR. Nós comprávamos as passagens de ônibus em uma lojinha, entravamos no ônibus e validávamos em uma máquina que marcava o dia e a hora que a passagem estava sendo utilizada. 

No ônibus, nada de cobrador ou catraca!!! Porém todos tem a obrigação de ter passagens válidas para o trecho realizado, senão estará sujeito às penalidades, quando eventualmente entra um controlador de passagens e pede para que apresente um bilhete válido. 

Photo by www.dvb.de 
Quando chegamos na Alemanha, e compramos as passagens do Straßenbahn tivemos o mesmo espanto. Como assim? para quem eu mostro que comprei a passagem? Era realmente algo muito novo para mim.

Aqui em Dresden, não é diferente, Eu chamo os controladores de caçadores de "caloteiros", pois eles comportam-se assim, com caçadores suaves, mas implacáveis quando pegam  sua "caça", isto é, aquele que dá calote, andando na maior "cara de pau" sem um bilhete válido.

Todos os dias eu pego 4 transportes, para levar e buscar meu filho no Kindergarten, e durante estes meses posso contar nos dedos quantas vezes eu vi, os controladores.

Houve um dia em especial, quando eu estava em um Straßenbahn, eu sentei na última cadeira do trem, e logo ele, o controlador, se levantou e me cobrou o bilhete, como eu tenho um bilhete semestral, ando com segurança, e mostrei meu bilhete. 

Eu pude ver uma delicada expressão de decepção, mas entrou outros, e o cara, como um caçador, foi em cima do grupo de chineses, que demoraram, mas mostraram um bilhete válido. Mais uma decepção para o controlador, mas ele paracia não desistir. Ele tinha uma colega de trabalho, que ficava sempre sentada. 

E para felicidade do controlador, entraram mais pessoas, e finalmente ele encontrou um estudante, estrangeiro, que não falava alemão, e o cara se ferrou. A multa é de 50€ (ou mais, não sei ao certo).

Eu já vi algumas cenas de caloteiros pegos no flagrante, tem uns que até choram, outros esquecem como falar alemão (risos) e outros até tentam fugir, mas os "caçadores" são o bicho!!! 

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O Muro de Berlim e eu

Eu estava com 15 anos de idade, no dia 9 de novembro de 1989, quando assisti o longo noticiário sobre a "queda" do Muro de Berlim.
Eu já estava cursando o primeiro ano do segundo grau e já havia estudado sobre a barreira física (o muro) que separava ao meio a cidade de Berlim, e tudo o que simbolizava a divisão da Alemanha em Oriental (socialista) e Ocidental (captalista). Sabia que durante a guerra fria, inúmeras famílias alemãs ficaram sem ter acesso aos parentes e amigos que tinha do outro lado da absurda "fronteira" (chamada de "cortina de ferro").

Eu lembro deste dia e das impressões e sentimentos que tive. Eu fiquei primeiramente impactada com a notícia porque eu, mesmo tão jovem, não conseguia acreditar que um dia isso poderia acontecer, mas aconteceu e eu estava vendo!!! Eu vi, naquele momento, que nada é impossível, e que talvez, eu também, um dia pularia de felicidade, assim como aquelas pessoas, por algum motivo especial. 

Eu já falei que sou de uma família muito pobre, passamos por necessidades, trabalhei para ajudar no sustento da casa, vendendo frutas, sofria humilhações por morar no "fundo do quintal" de favor, humilhações na escola e igreja, por não ter sapatos e roupas melhores, mesmo estudando em colégio público, onde a classe econômica daqueles que me humilhavam não era tão melhor que da minha família, eles só tinham um pouco mais (como diz minha tia "... quem persegue o pobre é o próprio pobre"). 

Eu, aos 15 anos eu não tinha fé no futuro, nem meu, nem dos outros, mesmo eu ouvindo minha mãe falar diariamente 
"... de hora em hora, Deus melhora. A fé é que me mantêm em pé."
A Reunificação da Alemanha (celebrada em 3 de outubro de 1990), me marcou, ao ver uma nação se unir novamente, após anos de divisão e sofrimento, privações e necessidades economicas do lado oriental, parecia-me um sinal de que algo muito bom também poderia acontecer na minha vida.

Hoje, aos 41 anos, morando na Alemanha (oriental, se ainda houvesse muro), venci as dores da pobreza e aprendi a acreditar no futuro mais feliz. Viva a Alemanha para sempre!!!



O lado oriental não havia qualquer rabisco ou
colorido, era o cinza sólido assim como o
socialismo.

Fragmento do muro de Berlim, do lado
capitalista, colorido de protestos.


domingo, 4 de outubro de 2015

A Denise Chocobom

Eu estava entrando em uma loja, com meu esposo e meu filho, quando resmunguei, sem falar baixo, que meu "suvaco" estava coçando, com a equivocada garantia de que ninguém iria entender, ledo engano

Photo by www.denisechocobom.de
Havia pessoas entrando e saindo da mesma loja, mas tinha uma moça parada na porta da loja, era a Denise Chocobom, e ela caiu em uma doce gargalhada ao me ouvir, e eu me aproximei dela e gargalhei junto. Então olhei melhor para ela e percebi que ela só poderia ser uma brasileira, carioquíssima, morena, magra, perfeita, calçando sandálias "anabela" e com anéis extravagantes em cada dedo. 

Depois do riso soltou, começamos a conversar, nos conhecer, trocar contatos, deixei completamente meu esposo e filho, para papear com aquela figura tão iluste e famosa, na cidade de Dresden. 

Ontem, eu à encontrei novamente, na sua Tenda de Coquiteis no Familienfest am Goldener Reiter, festa do feriado de 03 de outubro. Era possível ver a bandeira brasileira de longe, da sua tenda. O cocar de índio, feitos com pedras e penas azuis, era o toque de fundamental da idealização do Brasil naquela festa.

Entretanto, nossa princesa carioca estava contrariada, com tanta música alemã!!! Ocasionalmente, quando tem festa em espaços públicos, sempre tem a apresentação de músicos brasileiros, mas ontem não rolou. Fazer coquiteis ao som de uma tortura saxônica, ninguém merece, não é?

Denise estava muito ocupada com os coquitéis, que graças a Deus, vendia mais que água, e não pudemos conversar mesmo, tão pouco fazer uma fotografia para colocar neste texto.

O site de Denise é todo em alemão, mas com informações sobre as diferentes festas culturais brasileiras, com uma pequena resenha e algumas fotografias, incluíndo o Boi Bumbá, o que me deixou muito agradecida e feliz. 

Ela é o máximo!!! Eu sou sua fã Denise Chocobom. 

sábado, 3 de outubro de 2015

Como não amar a Alemanha?

Eu costumo pegar livros na Biblioteca Pública perto da nossa casa, vou quase sempre sozinha porque o meu filho não gosta do espaço infantil que tem lá, é pequeno e meio sem graça, se comparado ao espaço da Biblioteca Central. 
No mesmo dia em que "aquele livro me quis", eu recebi um presente das bibliotecárias!!!
Photo by Galiceanu A. 2015
Depois que a menina me deu o recibo-controle dos livros que eu emprestei, ela perguntou quantos anos meu filho tem, pois a biblioteca tinha um presente para ele. Então ela me deu uma sacolinha de pano, com o logotipo "Lesestart".
Continha dentro da sacola um poster super colorido, dois guias de leitura para os pais incentivarem a leitura aos seus filhos e um lindo livro da Editora Arena, que tem livro incríveis para as crianças. Olha no site dessa editora, você vai "surtar", se voce tiver filhos de 0-12 anos.

A bolsa e o conteúdo, trata-se do programa de apoio e promoção à lingua e leitura, voltada para as crianças e adolescentes, um programa financiado pelo Ministério da Educação e Pesquisa da Alemanha (Bundesministerium für Bildung und Forschung).

Então eu pergunto: como não amar a Alemanha?

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

O fantasma da Biblioteca

Ontem eu fui buscar livros para o meu filho e para mim na  Biblioteca Pública de Dresden, e voltei com uma história para contar.

Havia mais duas senhoras, que assim como eu, estavam escolhendo livros para seus "pimpolhos" na sessão de livros infantil. Eu estava buscando livros na estante de Bildbücher (livro imagens, os quais contêm mais imagens que textos) quando "puft", caiu um livro em cima da minha cabeça, assim do nada!!!


Tem somente uma prateleira, mais em uma posição mais alta que eu, acima da minha cabeça, e foi de lá que veio o livro!!! Eu já estava à pelo menos ums 20 minutos em pé ali, escolhendo livros, na prateleira abaixo, onde eu perfeitamente alcançava, perdida entre tantas opções, quando, sem nenhuma explicação lógica, o livro caiu. 

Meu esposo disse que talvez a estante balançou, mas esta hipótese eu descartei, pois ele não conhece lá, as estantes são fixas no chão e nas paredes, afinal o público daquele setor são crianças, que podem eventualmente ter a idéia de se pendurar nas estantes.

O livro ficou até com a marca do meu batom porque, de tão surpreendida, eu acabei esfregando ele um pouco no meu rosto para que ele não caísse no chão, puro instinto. Bem, já que o acaso o colocou na minha cabeça, digo, nas minhas mãos, fui folheá-lo. 

O livro é da editora Boje-verlag, em uma edição de 2008, com páginas amareladas e com aquele cheiro de livro velho. O livro chama se "Der Zauberer Korinthe", isto é, o mágo Korinthe, e tinha por todas as páginas as pegadas deste mágo que caiu dentro de um tinteiro. Era muito menos colorido do que eu espero de um livro para chamar atenção do meu filho, mas continuei folheando-o, para dar mais uma chance e entender o porquê dele. 

Ao lê-lo, percebi as rimas, jogo de palarvras, era uma poesia, era um livro imagem também, e na última página havia uma partitura, que ao final entendi que na verdade as rimas do livro, tratava-se de letra de uma música ou uma poesia que virou letra de música, não sabia ao certo, naquele momento.

Se era uma música, certamente teria no Youtube! E tem, encontrei muitos vídeos recitando a poesia e somente três cantando (quer tentar, veja aqui).

O autor do livro, James Krüss, ao lado do Josef Guggenmos, foram dois grandes autores de poesia infantil alemã de meados do século XX até hoje, segundo Rechou et al. 2009(*)

Eu não gostei muito do livro, ele não era tão mais interessante que os outros, mas eu o trouxe para casa e tentar fazer meu filho se interessar, a final o livro me quis e não o contrário. Eu não acredito em espíritos, tão pouco em fantasmas, mas para brincar, coloquei esse título. Porém eu acredito em mágos (risos), agora no Mago Korinthe.

(*) RECHOU, Blanca-Ana R., LÓPEZ, Isabel, RODRÍGUEZ, Marta N., 2009. A Poesía Infantil do Século XXI (2000-2008), Vigo: Edicións Xerais de Galicia.