segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O tschüs dos alemaes

Photo by Galiceanu A. C. ©  2015
Aqui em Dresden tem um parque que amo muito, o  Großer Garten

Desde a primeira vez que vim em Dresden, na primavera de 2013, eu me o amei, por seus 147 hectares de paisagem de jardins, por suas exuberantes coníferas, majestosas folhosas, o Castelo Barroco, o Lago e o passeio de trenzinhos ao logo de sua extensão.

Os trenzinhos do Großer Garten nos convida a voltar a nossa infância e são um convite a imaginação. E eu não estou exagerando. Sabe que tem a Estação Central (Hauptbahnhof)? Tem até estações menores, como se fossem estações de pequenas cidades. Sabe que tem até os controladores de passagens? são crianças vestidos com farda, chapéu e aquele aparelho que fura as passagens quando está tudo certo.

Photo by Galiceanu A. C. ©  2013
Neste ano, no início de maio, quando começou a fazer dias mais quentes, nós fomos para lá, para o Großer GartenFomos fazer piquenique, como eu havia sonhado, durante os 2 anos de espera, até chegar aqui. Nós sentamos debaixo de uma árvore Eichen, que fica ao lado do trilho do trenzinho, para vê-lo, curtí-lo e até dar "tchauzinhos".

Opaaaaaaaaaaaa, dar "tchau" já era demais, né Ana Célia!!! mas não foi ...

Quando passou o primeiro trem, o meu filho começou a acenar com as mãos, e alguém no trem respondeu, ai eu fiquei agradecida de acenei também, então outras pessoas deste tem também nos deram tchau. 

Depois, passou outro trem, e nós duvidamos que aconteceria de novo, tanta simpatia, de pessoas desconhecidas nos saudar. Nós nos surpreendemos mais uma vez, porque foi o que aconteceu. Eu e meu filho mal podíamos esperar passar outro trem e mais outro, e outro.

São crianças, senhoras, senhores, idosos, entre os que correspondem aos nossos acenos. Claro que não são todos, são alguns, mas somam um número são representativos. 

Desde então, nosso "esporte" predileto é dar "tchau" para os passageiros dos trenzinhos que passam ao lado da "nossa" árvore. 








sábado, 15 de agosto de 2015

Perdido na tradução - o meu filme atual

O filme Encontros e desencontros conta a história de um ator americano que foi para Tóquio para um trabalho publicitário e que tem dificuldade de ser compreendido, mesmo quando está na companhia de tradutores. O nome original do filme é Lost in translation. 

"Lost in Translation" (em português fica "Perdido na tradução") é uma expressão americana que demonstra a parte cultural de palavras ou frases que se perde quando é traduzida para outra língua (no inglês e em outros idiomas), mesmo que a tradução seja feita ao "pé da letra", isto é, traduzida integralmente no sentido literário, compreendido sem ajuda de contexto.


Foi meu esposo que citou este filme para mim, depois que eu cheguei da igreja, e falei da minha dúvida se assisti uma celebração católica ou não (eu já contei essa história aqui). E meu esposo cita este filme todas às vezes que conto para ele quando algo dá errado (risos).

Quanto mais eu tenho-me esforçado (pretérito-perfeito-composto do verbo esforçar-se, pensou que eu errei, não é?) em aprender a gramática alemã, eu continuo cometendo muitos erros, e disponho da gentileza dos alemães para ser compreendida.

O verbo frühstücken em alemão, para mim, é a mais intrigante palavra para se traduzir para o português. A sua tradução é literalmente tomar café da manhã. Veja se pode isso? Um verbo exclusivo para o ato de se alimentar pela manhã.

Eu adoro usar este verbo. Eu não resisto e vou conjugá-lo no tempo presente para aqueles que não o conhece: ich frühstücke, du frühstückst, er frühstückt, wir frühstücken, ihr frühstückt, sie/Sie frühstücken. Consegue imaginar os outros tempos verbais?

O nosso idioma português, por exemplo, é rico de sinônimos e flexível para diferentes estruturas gramaticais, permitindo uma vasta possibilidades de dizer  uma idéia através de diferentes frases.  O português sugere à poesia, por sua riqueza literária, o que torna, para mim, mais difícil de traduzir a idéia que quero comunicar, seja na escrita ou na fala.

língua portuguesa, também designada português, é uma língua romântica flexiva, que foi originada da evolução do latim, sendo a 5ª língua mais falada no mundo. A cidade de São Paulo é a cidade com maior número de falantes do português em todo o mundo, e possui o Museu da Língua Portuguesa (https://pt.wikipedia.org/wiki/).

Eu sempre consulto o site Significados.com.br para saber os conceitos e definições de determinadas palavras que uso nos textos que escrevo aqui no blog. Eu consulto também, com cautela, o site Dicionarioinformal.com.br, para encontrar sinônimos adequados para algumas palavras. A palavra espetacular, por exemplo, é espetacular, pois está sugerido inúmeros sinônimos para diferentes contextos.

Eu estou perdida na tradução, mas espero que o "meu" próximo filme seja O Terminal, com Tom Hanks (o título em inglês é "The Terminal"). Lembra da estória?

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Transporte público tem que ser para todos

Eu já havia contado esta história no meu Facebook! E gerou um modesto debate.

Um dia eu fui buscar meu filho no Kindergarten e peguei o ônibus que passa perto de lá. Na segunda parada, entrou no ônibus, a Diretora do Kindergarten.

Photo taken by Burts
O Diretor do instituto de pesquisa que eu frequentei no Sul da Alemanha um dia quase me atropelou, ele desviou bruscamente para não me tocar, e ele quase caiu da sua bicicleta. Ele já era um senhor de meia idade, mas estava ali, firme e forte,  e sem um centímetro de "barriga quebrada" sobre a calça.

E o diretor do departamento do meu esposo, aqui em Dresden, também chega de bicicleta, ele é mais jovem e eventualmente chega no seu BMW.

Honestamente eu fiquei muito impressionada, Eu não poderia imaginar isso acontecendo em Manaus, nem pelo transporte público deficitário, nem pelo padrão de "status" mantido por muitos brasileiros, à todo custo,

Logicamente que eu não estou generalizando, eu não julgo que todas as pessoas que ocupam cargo de destaque no Amazonas ou no Brasil como um todo, sejam arrogantes e exibicionistas. Entretanto, sabe-se que no Brasil existe uma cultura de (ou falta de cultura) ostentação e cobrança da exibição de sua mudança de condição social e finaceira.

Todos nós sabemos dos problemas de segurança pública do Brasil, da manutenção de ruas e estradas, problemas de transportes públicos, e que seria injusto fazer uma comparação com qualquer outro país, Porém, tudo é uma questão de iniciativas, como o exemplo de Curitiba, cidade que eu amo muito (estudei lá alguns anos). 

O Transporte urbano em Curitiba tem características inovadoras e tem sido considerado um dos pioneiro em modernização e reestruturação do sistema de transporte urbano no Brasil (https://pt.wikipedia.org/wiki/). Curitiba implantou em 1974 (vejam que não foi ontem) o "Sistema Expresso", criando ruas exclusivas para a circulação de ônibus. Ao longo dos anos o transporte público foi aprimorado, criando ciclovias, para favorecer o uso de bicicletas, entre outros benefícios que atinge diretamente na qualidade de vida dos habitantes de Curitiba e Região Metropolitana.

Então, todos nós, eleitores e governantes, sabemos com pode melhorar, sem perder mais tempo em fazer críticas pesadas, sarcásticas e muitas vezes inúteis.

Quando chega a Primavera

Aqui na Europa a Primavera ("Primavera boreal", diferente do Hemisfério Sul) inicia após o inverno, aproximadamente no dia 20 de março e termina em 21 de junho, para começar o verão.

Neste ano, a primavera começou em meio ao frio, com "cara" de inverno. No dia 02 de abril até nevou! Nós adoramos porque chegamos aqui no final de fevereiro e não tinha neve alguma, ai pensamos que só no próximo inverno. Meu filho repetiu tanto que queria brincar com neve, que ela veio, por algumas horas, mas veio.

O domingo de Páscoa foi no dia 05 de abril deste ano, e muitos alemães que conheço adorariam que nevasse. A Páscoa aqui é celebrada com tanto respeito e afetividade quanto o Natal. Tem até uma árvore, que eles decoram no jardim ou dentro do apartamento, cheia de ovos e brinquedinhos para as crianças, é comum até troca de presentes (vou escrever sobre isso oportunamente, tá?)

Os dias se passaram e a lembrança do inverno foi sendo afastada com o surgimento das primeiras folhinhas verdes. Todo aquele cenário meio triste ia mudando dinamicamente, a cada amanhecer. Parece-te poético? As mudanças das estações são extremamente poética e nos convida à refletir sobre os processos da vida em seu cíclo de nascimento, crescimento, morte.

Nos faz pensar nas perdas que sofremos, nos ganhos e conquistas, nas longas esperas, na certeza de que sempre o sol surgirá na primavera e verão, e que teremos que enfrentar mais um inverno, e outro, mas sempre na esperaça dos dias de sol, os quais são destinados às férias e diversão. E por favor, não esqueçamos que no período de inverno tem seu encantamento, sua diversão, sua vantagem, suas festas.

No Amazonas, minha terra natal, não há as estações definidas desta forma, impossibilitando à todos de vivenciar esta prática de "luto" anual, perdas, esperas, ganhos, perdas novamente, no cíclo natural.

continua ...

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Quando chega a primavera - Parte II

Diga-me se é possível falar da chegada da primavera sem falar delas, as flores?

Photo by Galiceanu A. C. ©  2013
Na fotografia estávamos no jardim do Schloss Pillnitz (mais uma palavrinha em alemão para você, que não conhece, aprender: Schloss é castelo), cercados  de Azáleas de diferentes cores.

Eu fiz tantas fotos das Azáleas, tulipas, rosas, nesta visita, que tenho que publicá-las. Eu devo colocá-las nos próximos dias na minha conta do Pinterest.


Os arbustos estavam completamente tomados de cachos de flores, em cores incríveis, que parecia que estávamos em um sonho, por ser tão lindas.

Fizemos a fotografia na primavera de 2013, quando estivemos em Dresden pela primeira vez. Neste mesmo ano, em 02 de junho, houve uma inundação surpreendente. O Rio Elbe transbordou cerca de 9 metros, atingindo o alerta de nível 4. O Terrassenufer (importante ponto turístico as margens do Rio Elbe) foi até bloqueado.

Nesta primavera fomos visitar novamente o jardim deste castelo, mas para nossa surpresa, não havia a mesma paisagem florida do ano de 2013. Havia flores, mas muito muito menos. Talvez ocorreu alguma alteração no solo, nas plantas em geral, depois de ter sofrido a sobreposição hidrica.

Achei esse vídeo espetacular, feito em junho de 2013, do Rio Elbe transbordado sobre Dresden.


Na primavera inicia-se também a temporada de festas e expetáculos públicos, que segue até o final do verão (falo mais aqui destas festas).

O primeiro "fervo" que fomos neste ano, foi o festejo de 01 de maio - dia do trabalhador - o tradicional Festival da Primavera, Tinha brinquedos para as criança, barracas com comidas e cervejas típicas da região, artesanatos, espetáculos musicais e de dança e muito mais, nós adoramos. Outro dia, no finalzinho de maio, nós três encontramos outro "fervo" promovido pelo SOS Kinderdörfer na Dr.-Külz-RingStraße.

E a primavera se foi dando lugar ao verão, mas as flores ainda estão por todos os lados.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Quando foi preciso confiar

Meu filho chorou o ano inteiro para não ir à creche no Brasil. Aqui não está sendo diferente, mesmo ele sendo mais velho, mesmo que na creche ele só brinca o dia inteiro (já falei um pouco sobre isso aqui), mesmo que ele tem total liberdade de escolher o que vai fazer, em que sala vai ficar, nem assim ele desiste de chorar e pedir para não ir para a creche.

Além de todas essas vantagens, as crianças dos Kindergärten fazem visitas aos museus, exposições públicas, pontos turísticos e históricos da cidade. Todos vão de transporte público: Straßenbahn ou ônibus, trens regionais ou Elbfähren (ferry em inglês - tipo as balsa que atravessa os rios do Amazonas, mas bem pequena, proporcional a largura do rio Elbe).

As visitas feitas pelos Kinder, são uma outra forma de educar, ensiná-los como devem se comportar em um transporte público, respeitando o espaço dos outros, ceder lugar nas cadeiras para pessoas idosas ou senhoras grávidas. Aprender que não se deve falar alto dentro dos transportes coletivos e locais fechados, aprender que deve sempre pagar as passagens (como assim? depois eu explico sobre as passagens).

A turma do meu filho já visitou o museu que ele mais ama - Verkehrsmuseum - o museu da história dos transportes, onde logicamente tem aviões e trens, percebe? e o dia que eles foram dar uma voltinha de Standseilbahn? E meu filho andou de Elbfähren!!! Tantas emoções, aprendendo a viver, confiar em si mesmo, ao lado dos colegas e professores, e sem a presença dos pais, sem entender muito bem o que todos estão falando.

E mesmo com todas essas vantagens, é comigo que ele quer ficar, em casa, porque aqui é o pequeno universo dele, com seus brinquedos e livros, seus filmes prediletos, suas músicas, sua mamãe. 

Assisti esse vídeo do Mini Superman e lembrei dos primeiros dias do David no Kindergarten aqui na Alemanha, foi tão igual o que aconteceu com ele, que eu tive que incluí-lo aqui.

Meu filho tem, mas não usou sua fantasia de Superman, pois ainda era inverno e ele também não saberia tirá-la para ir ao banheiro. David e eu pensamos nisto, foi o pai, que tem mais juizo, que não achou ser uma boa ideia.

Ele usava somente o gorro do Superman e sua foto 3 x 4, vestido de Superman esta no vestuário, no banheiro, na sua pasta de documentos do Kindergarten, por todo lado.



Devido o meu filho ser a única criança que não falava alemão, as outras crianças foram orientadas para ajudá-lo (e todos são muito fofos com ele).

Assim como no Brasil, não é permitido trazer brinquedos de casa, porém aqui não pode nenhum dia da semana, como é comum no Brasil. Então nós combinamos com ele que ele poderia levar o brinquedo com ele durante o caminho da escola, e ao chegar, colocar o brinquedo na mochila. Combinamos que o seu aviãozinho estaria lá, sempre que ele precisasse, para sentir como se estivesse em casa.

Quando o amor de mãe não foi suficiente

O meu filho foi para a creche no Brasil somente com 3 anos e 8 meses, isto é, com praticamente 4 anos. Eu e meu esposo até "ensaiamos" colocar ele dos 3 anos na creche, fomos um ano antes obter informações, mas devido ao meu problema com Síndrome do Pânico (falo sobre esse assinto aqui: A carta para creche do brasil - Parte I ) tivemos que adiar este plano. Parecia impraticável, eu não saia nem do condomínio que morava, quanto mais levar o filho para escola.

Eu cuidei do meu filho diretamente desde que nasceu e compartilhei esta tarefa somente com meu esposo. Nós compramos livros, CD, DVD e brinquedinhos conforme a fase de desenvolvimento que ele se encontrava. Um dia eu conto sobre esta fase de vida do nosso filho.

Nós cantávamos, cantávamos e cantávamos. Eu aprendi as 96 músicas da Coleção de clipes musicais do Cocoricó, e outras tantas do Patati PatatáGalinha pintadinha e a Palavra cantada, que na verdade ele começou a gostar mesmo somente depois dos 3 anos.

Assistíamos juntos os fantásticos vídeos da Coleção Baby Einstein com 12 DVD (vendido somente na Livraria Saraiva). David tinha 7 meses quando nós colocamos estes vídeos para ele. Tinhamos também alguns livrinhos da mesma coleção, o que reforçava o entendimento. O tema que ele mais gostou foi o Baby Galileo - descobrindo-o-céu, ele "pedia" para repetir, repetir e repetir. Eu até tentava colocar outro, mas ele conhecia a musiquinha do início, e protestava com choro para eu mudar. 

Talvez, foi daí que suscitou a paixão que ele tem por tudo que voa, insetos ou pássaros, aviões ou foguetes, por tudo que está lá no céu, lua ou sol, estrelas ou planetas. Assistindo os vídeos ele aprendeu a falar algumas palavras. A primeira palavra que aprendeu em inglês foi "star", depois "moon", depois "shine", porque afinal, estrelas brilham, não é?

Um dia, quando eu estendia roupas na varanda, ele me surpreendeu ao olhar para o céu, apontar e dizer "clouds", falou bem explicado, como todas as pouquíssimas palavras em português que ele sabia falar. Ele demorou muito para falar uma frase completa, mas eu nem me aflingi, busquei informações e vi que não havia nada de errado, e eu estava certa, hoje ele fala como um rádio (risos).
Nós dois nos divertíamos muito, eu sempre brincava com ele, pintávamos aviões gigantes, estrelas, lua, sol e planetas, em folhas 200 gramas ou nas paredes de casa.  Entende agora os interesses dele por planetas? Quando ele completou 3 anos eu fiz, literalmente, a decoração da festa de aniversário. O tema foi o Sistema Solar, mas isso eu vou falar e mostrar depois.

Photo by Galiceanu A. C. © 2012
Nós fazíamos bolinhas de sabão no banho ou na varanda todos os dias. Marionetes de dedinhos? sim, era sempre a mesma história, pois eram marionetes de natal. Tínhamos livros sonoros, os quais o faziam ri. Estávamos sempre juntos durante o dia!!! Até mesmo quando eu precisava cozinhar eu o integrava na tarefa, de modo seguro, é lógico, ele me ajudava a fazer bolo e suco de laranja no espremedor, colocava os legumes cortados na panela, e até se divertia muito quando eu dizia que "meu arroz estava queimando", interpretando um comicamente uma cozinheira maluquinha (as vezes nem era o arroz, mas como ele se divertiu tanto eu repetia a frase).

Eu fiz de um tudo para que meu filho não sentisse os impactos da privação de liberdade, minha e dele, imposta por minha situação psicológica. Porém, não era suficiente, ele precisava se relacionar com outras crianças da idade dele, precisava brincar ao ar livre, precisava ir para creche.